quinta-feira, 31 de maio de 2018

Palavras do Autista

Eu vejo vida onde não tem
Posso ser nervoso ou o sujeito mais zen
Posso ser uma máquina
Mas também erro e acerto
Sou distante quando estou perto
Um não pode ser um sim
Um deserto pode ser Jardim
Minha mente colore o seu prazer
O meu caminho tem mais dificuldade
Seja no campo, litoral ou cidade
Não sou o maior dos comunicadores
Mas na vida tento ser um dos vencedores
Tendo a me mover de maneira incomum
Mas é porque não sou qualquer um.
Mas posso aumentar o pulso do seu coração
Venha comigo
Enfrentar o perigo
E cada batalha vencida na vida
Me sinto um grande estrategista
Mas sou um simples soldado,o soldado autista.

Vitor Monri

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018


"sua amizade é uma das melhores coisas que já me aconteceu

obrigado por estar ao meu lado
por suportar meus problemas e ser meu ponto de paz
saiba que eu estou aqui por você também"

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Consolo na praia

Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

Carlos Drummond de Andrade

sábado, 6 de janeiro de 2018

José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
 já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
 o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fuigiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
que morrer no mar,
ma o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

A Bruxa

Nesta cidade do Rio,
de dois milhões de habitantes,
estou sozinho no quarto
estou sozinho na América.

Estarei mesmo sozinho?
Ainda há pouco um ruído
anunciou vida a meu lado.
Certo não é vida humana,
mas é vida. E sinto a bruxa
presa na zona de luz.

De dois milhões de habitantes!
E nem precisava tanto...
Precisava de um amigo,
desses calados, distantes,
que leem verso de Horário
mas secretamente influem
na vida, no amor, na carne.
e a essa hora tardia
como procurar amigo?

E nem precisava tanto.
Precisava de mulher
que entrasse nesse minuto,
recebesse este carinho,
salvasse do aniquilamento
um minuto e um carinho loucos
que tenho para oferecer.

Em dois milhões de habitantes,
quantas mulheres prováveis
interrogam-se no espelho medindo o tempo perdido
até que venha a manhã
trazer leite, jornal e calma.
Porém a essa hora vazia
como descobrir mulher?

Esta cidade do Rio!
Tenho tanta palavra meiga,
conheço vozes de bichos,
sei os beijos mais violentos,
viajei, briguei, aprendi.
Estou cercado de olhos,
de mãos, afetos, procuras.
Mas se tento comunicar-me,
o que há é apenas a noite
e uma espantosa solidão.

Companheiros, escutai-me!
Essa presença agitada
querendo romper a noite
não é simplesmente a bruxa.
É antes a confidência
exalando-se de um homem.

Carlos Drummond de Andrade