quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Segunda canção de muito longe

 Havia um corredor que fazia cotovelo:
 Um mistério encanado com outro mistério, no escuro...

 Mas vamos fechar os olhos
 E pensar numa outra coisa...

 Vamos ouvir o ruído cantando, o ruído arrastado das correntes no algibe,
 Puxando a água fresca e profunda.
 Havia no arco do algibe trepadeiras trêmulas.
 Nós nos desbruçavamos a borda, gritando os nomes uns dos outros,
 E lá dentro as palavras ressoavam fortes, cavernosas como vozes de leões.
 Nós éramos quatro, uma prima, dois negrinhos e eu.
 Havia os azulejos reluzentes, o mundo do quintal, que limitava o mundo,
 Uma paineira enorme e, sempre e cada vez mais, os grilos e as estrelas...

 Havia todos os ruídos, todas as vozes daqueles tempos...
 As lindas e absurdas cantigas, tia Tula ralhando os cachorros,
 O chiar das chaleiras...
 Onde andará agora o pince-nz da tia Tula
 Que ela não achava nunca?
 A pobre não chegou a terminar a Toutinegra do Moinho,
 Que saia em folhetim no Correio do Povo!...
 A última vez que a vi, ela ia dobrando aquele corredor escuro.
 Ia encolhida, pequenininha, humilde. Seus passos não faziam ruído.
 E ela nem se voltou para trás!
Mario Quintana

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Hello Galerinha!!!
chegou a hora de dar a sua opinião, ela é importante para o blog
XOXO